A realidade venceu a esperança
O psicanalista e escritor Francisco Daud da Veiga escreveu hoje na seção Opinião do GLOBO uma coluna bastante interessante e que exprime muito bem o atual sentimento do carioca-milho que vos fala. Segue um trecho:
O lamentável é que, assim como o autor do texto, a maioria da população não sabe o que fazer, a quem recorrer. Não temos mais uma alternativa no horizonte. Nenhum político surge com uma utopia que nos encante a ponto de lutarmos para defendê-la. E isso também vale para o cenário federal (e até mesmo mundial), a maior decepção do governo Lula é que ele era visto como A Alternativa, como diria o velho Brizolla: "a solução para tudo isso que está aí" -apontando com o indicador para cima...
Ainda usando a metáfora do psicanalista, todos os cidadãos de bem do mundo, atualmente, são milhos. A nossa grande esperança atualmente consiste nas eleições para a Casa Branca, como se John Kerry fosse salvação para alguma coisa...como se fosse propor algum modelo novo. Não vai. A desigualdade no mundo vem aumentando e, principalmente no mundo ocidental, vem aumentando também o desemprego, incertezas, insegurança etc. Nós já concordamos que o modelo antidemocrático que a China tem hoje, mesmo crescendo em um ano o que não crescemos em quatro, não nos serve. Enfim, não há um modelo alternativo e o atual vem mostrando um grande declínio.
Assim como o Brasil ficou otimista, sem ter nenhum fundamento, com a eleição de Lula, estamos otimistas com a perspectiva da vitória de John Kerry. Concordo que pior que o Bush ele não deverá ser; mas achar que ele vai reverter o estrago feito pela administração atual -se é que realmente é culpa dela e não de um declínio 'cíclico' da economia americana-, fazer os EUA crescerem de forma espantosa (como na era Clinton) e nos arrastar junto é muito otimismo pra pouco -ou nenhum- fundamento.
Não há mais uma alternativa 'socialista' que nos encante -até pelo fato de ser uma alternativa e não tanto pelo socialismo em si. Não há mais um objetivo, ainda que sabidamente utópico, para as pessoas se manifestarem e lutarem por ele.
Odeio ter que brigar. Odeio sentir raiva e não tenho vocação para qualquer espécie de militância política. Mas há ocasiões em que me lembro de uma anedota que meu pai costumava contar:
“Dois grãos de milho conversam no chão de um galinheiro, e um deles comenta, ao ver a galinha engolir um terceiro, a sorte que tiveram porque não foi com eles, sem se darem conta de que serão os próximos.”
Pois foi esse pai, hoje com 99 anos, e minha mãe, de 90, que ficaram sob a mira de revólveres por duas horas, dentro do quarto deles, reféns de cinco assaltantes que levaram o que ainda restava do último assalto (faz quatro meses) e mais o carro — depois recuperado numa favela próxima. Dois assaltos em quatro meses, depois de viver na mesma casa 50 anos de tranqüilidade.[...]
“Dois grãos de milho conversam no chão de um galinheiro, e um deles comenta, ao ver a galinha engolir um terceiro, a sorte que tiveram porque não foi com eles, sem se darem conta de que serão os próximos.”
Pois foi esse pai, hoje com 99 anos, e minha mãe, de 90, que ficaram sob a mira de revólveres por duas horas, dentro do quarto deles, reféns de cinco assaltantes que levaram o que ainda restava do último assalto (faz quatro meses) e mais o carro — depois recuperado numa favela próxima. Dois assaltos em quatro meses, depois de viver na mesma casa 50 anos de tranqüilidade.[...]
O lamentável é que, assim como o autor do texto, a maioria da população não sabe o que fazer, a quem recorrer. Não temos mais uma alternativa no horizonte. Nenhum político surge com uma utopia que nos encante a ponto de lutarmos para defendê-la. E isso também vale para o cenário federal (e até mesmo mundial), a maior decepção do governo Lula é que ele era visto como A Alternativa, como diria o velho Brizolla: "a solução para tudo isso que está aí" -apontando com o indicador para cima...
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Ainda usando a metáfora do psicanalista, todos os cidadãos de bem do mundo, atualmente, são milhos. A nossa grande esperança atualmente consiste nas eleições para a Casa Branca, como se John Kerry fosse salvação para alguma coisa...como se fosse propor algum modelo novo. Não vai. A desigualdade no mundo vem aumentando e, principalmente no mundo ocidental, vem aumentando também o desemprego, incertezas, insegurança etc. Nós já concordamos que o modelo antidemocrático que a China tem hoje, mesmo crescendo em um ano o que não crescemos em quatro, não nos serve. Enfim, não há um modelo alternativo e o atual vem mostrando um grande declínio.
Assim como o Brasil ficou otimista, sem ter nenhum fundamento, com a eleição de Lula, estamos otimistas com a perspectiva da vitória de John Kerry. Concordo que pior que o Bush ele não deverá ser; mas achar que ele vai reverter o estrago feito pela administração atual -se é que realmente é culpa dela e não de um declínio 'cíclico' da economia americana-, fazer os EUA crescerem de forma espantosa (como na era Clinton) e nos arrastar junto é muito otimismo pra pouco -ou nenhum- fundamento.
Não há mais uma alternativa 'socialista' que nos encante -até pelo fato de ser uma alternativa e não tanto pelo socialismo em si. Não há mais um objetivo, ainda que sabidamente utópico, para as pessoas se manifestarem e lutarem por ele.
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