quinta-feira, junho 12, 2003

Correndo atrás da vida...

De uns dois anos pra cá minha vida estava estagnada. Fazendo faculdades pra ocupar meu tempo e, evidentemente, buscar uma 'formação a mais', enquanto não conseguia seguir no rumo que inicialmente havia traçado. Dizem que é assim mesmo, que tem que desviar de alguns CBs na rota, mas que depois fica beleza. Haja CB... mas tudo bem, aparentemente o 'tempo ruim' está acabando. Há uns meses a coisa começou a melhorar muito, e hoje comecei a dar a volta por cima na parte 'profissional': fui me inscrever pra banca de agosto do DAC. Que sacrifício...

Ontem eu liguei para o DAC e perguntei até quando ia o período de inscrição da próxima prova (que se realiza em agosto). O sujeito respondeu: "É só até sexta!". Putz...correria, tudo bem, hoje eu resolveria tudo. Como isso é um fato realmente importante para minha vida, fui tomado de uma ansiedade muito grande e imbecil, pois o atendimento começa às 13h. Mas como estava muito ansioso (eu sei que é ridículo, eu também achei!) e com muita gripe, mal consegui dormir e acabei madrugando. Sem problemas, desde o momento em que acordei, eu coloquei na cabeça que não iria me estressar. Eu venho há tempos tentando ficar menos estressado e tal (acho que isso aumenta o estresse), e hoje eu iria certamente precisar de muito autocontrole.

Assim que cheguei lá no aeroporto, me deparei com uma fila enorme para entrar no estacionamento. Estava no ar-condicionado, ouvindo um CD, tranquilo, não iria me estressar! E ainda tinha um ponto positivo que me fez ver que a vida é linda e não há motivos para se estressar... Apesar da fila ser grande (e ser de carros), ninguém furou; sempre tem aquele "ishperto" que diz que não sabia que era fila e tal...e acaba furando, mas não houve nada disso! Melhor do que isso...como tem uma "rua" que cruza bem na frente da entrada do estacionamento, se os carros que estão na fila embicarem direto no portão de entrada, o fluxo dessa "rua" fica interrompido. E, pasmem, todos os carros que chegavam à primeira posição da fila (a imediatamente anterior ao portão de entrada) não fechavam a rua, esperavam pacientemente vagar o lugar da cancela e, então, cruzavam a rua e entravam direto. Fantástico! Viu só? É tudo uma questão de querer ou não se estressar. Se você sair de casa disposto a não se estressar, ficará calmo. Nossa, o mundo é lindo!

* * *


Quero esclarecer aos chatos de plantão que usarei "DAC" para me referir a qualquer órgão da aeronáutica relativo à aviação civil, pois seria muito chato e desnecessário ficar utilizando todas as siglas específicas, etc... Isto posto, vale lembrar um fato:

Há uns anos atrás, eu fui ali próximo ao Santos Dumont para me inscrever em outra prova. As pessoas tinham que entrar em uma sala por uma portinha, se identificar, e passar por uma roleta deveras estreita. Essa salinha se localizava exatamente ao lado do portão para automóveis, um portão imenso. Bem, naquela data, na hora de sair, eu naturalmente ia sair pelo portão, mas recebi uma mijada fortíssima de um soldadinho recalcado, que me obrigou a entrar na salinha e sair por lá. Algum desses imbecis que passam o dia inteiro recebendo esporro dos superiores e só podem descontar seu recalque nos civis. Já tinha saído, mas voltei, entrei na salinha e tornei a sair. Fantástico. Muito bem...

Hoje estava um calor do cão, um sol de verão, lá fui eu novamente no mesmo local. Para minha surpresa, a salinha está desativada e agora há uma cabine ao lado do portão. Acreditem se quiser, agora as pessoas entram e saem pelo próprio portão e têm que ficar no sol (e na chuva) esperando o soldadinho (q está dentro da cabine, na sombra) anotar seus dados. Ora, quer dizer então que aquele chilique todo de me fazer voltar e sair pela porta era realmente puro recalque? Meu Deus...que mentalidade podre. Enfim, é com esse tipo de soldadinho que temos que lidar durante toda nossa vida. Quando a conversa chega aos oficiais (e "sub"), aí o nível fica ótimo e esse tipo de situação ridícula não ocorre. Pelo contrário. Vamos a mais uma "memória":

Há uns dois anos eu fui ao prédio do DAC que fica no Centro (um redondo), e nunca tinha ido lá. Não me lembro exatamente o porquê, mas eu estava bem vestido, barba feita, sapato "no padrão" (!), resumindo, do jeito que militar gosta. Apertei o botão para chamar os elevadores (são uns 5, sei lá...eram vários) e fiquei esperando. Assim que abriu a porta de um, entrei. Além do ascensorista, só havia mais uma pessoa, que era um coronel. Quando para minha surpresa o ascensorista esbravejou: "Retire-se, este é um elevador exclusivo para oficiais!". No mesmo instante eu me desculpei, disse que não estava ciente (quase pedi desculpas por respirar o ar dos oficiais) e fui me retirando, quando o coronel pediu que eu voltasse e deu uma esculhambada digna de aplausos no ascensorista. Deu vontade de ficar ali passeando de elevador e rindo da cara do imbecil. Cretino!


* * *


Entrei lá na sala de atendimento ao público, peguei minha senha (são quatro tipos de senha. nenhum dos tipos é claramente explicado) e fiquei sentado esperando a minha vez chegar. Era evidente que ia demorar, pois os únicos dois atendentes estavam entretidos com o início do jogo da seleção. Fiquei na dúvida se eu havia pego a senha certa (o objetivo da falta de objetividade é justamente sempre o atendente ter a liberdade de dizer que você pegou a senha errada), então resolvi perguntar a um soldado que lá estava: "Boa tarde, por favor, a senha para inscrição na prova é a branca ou a azul?!". "É a branca", ele respondeu. Botei a azul no lugar e peguei a nova, ou seja, fui para o "fim da fila". Sem problemas, eu estava determinado a resolver essa questão hoje e sem me estressar.

Beleza. Fiquei lá sentado pacientemente até que chegou minha vez, quando então fui informado por um sujeitinho com risinho debochado que as inscrições não são mais realizadas lá. São realizadas no DAC dentro do Santos Dumont. Bah, lá fui eu então. Ao entrar no lugar 'certo', tive uma boa notícia: o sargento que estava no atendimento é disparado o funcionário mais eficiente dessa área aqui no Rio. Não tinha fila, mas fiquei sabendo que eu precisaria levar minha licença (que estava em casa). Tá bom, ainda eram umas 15h e lá fica aberto até as 18h. Como tem que pagar uma taxa no Banco do Brasil, resolvi ir primeiro ao banco e depois retornaria pra casa. Fui até o Banco do Brasil "ali" da 1o de Março e, como sempre, demorou horas pra pagar. Tinham dois caixas. Os dois resolveram ficar discutindo sobre a final da Copa do Brasil. Que beleza! Trabalho que é bom, nada. Paguei os 45 reais e quando estou voltando pro estacionamento do aeroporto, vejo que há uma manifestação de funcionários da Varig ali na praça que fica em frente ao aeroporto. Tudo bem, estavam com um carro de som, alguns manifestantes com cartazes e apitos, o transito fluindo perfeitamente, tudo muito civilizado. Que mundo lindo!

Fui pra casa, peguei a licença e voltei feliz da vida pra lá. Como num passe de mágica, parece que o diabo veio à Terra nesse meio tempo.

Lembram-se da fila organizada e civilizada do estacionamento? Nada disso, nada disso. Parece que foi um sonho. Aquilo estava uma zona. Mas tudo bem, eu não iria me estressar...não iria...NÃO IRIA...OUVIU??? JÁ FALEI, NÃO IRIA ME ESTRESSAR!!! A fila tava andando...um carro a cada vinte minutos, mas andava... Quando eu estava quase entrando no estacionamento (só mais uns 5 carros), o que aconteceu?? O Diabo deu as mãos a Murphy e vieram juntos me atacar!!! Olha, nem eu mesmo acredito ainda nisso, mas a passeata dos 'variguianos' resolveu cruzar a tal rua que fica na porta do estacionamento bem na minha frente. Resumindo, a primeira coisa que fizeram foi colocar o carro de som tocando Chico Buarque aos berros, o que transformou o som do meu CD tão potente quanto o zumbido de um mosquito, a segunda foi passar toda a passeata na frente do meu carro. Devem ter ficado ali , entocaiados, esperando o momento certo: "Ei, vejam, um mané na fila! Vamos, é agora, é agora!!!".

Mas confesso que rolou uma identificação com os caras. Eles não estavam alegres, muito pelo contrário. Pareciam protestar o assassinato de um parente. Todos abatidos, apitando...andando quase de forma fúnebre. A minha ira se confundiu com o sentimento de pena e ao mesmo tempo de indignação. Tive vontade de gritar: "Por que diabos só agora??? Por que não fizeram passeata na frente da Fundação Rubem Berta para que dessem um basta nas pessoas que mamavam nas tetas da empresa?!? Por que esperaram chegar a essa situação? Estão chorando um defunto!!! Malditos! Saiam da minha frente!". Obviamente ficou na vontade e toda minha disposição a não me estressar já tinha passado junto com "A banda" do velho Chico que invadia meus tímpanos numa altura inacreditável, colocando em risco minha próxima inspeção de saúde. Será que era um truque deles? Já que perderemos nossos empregos, deixaremos todos surdos para que só nós possamos continuar no mercado! Será? Enfim...

Finalmente eles passaram, mas aí, aí...uma "ishpertona", num Fiat vermelho (Mulher em Fiat vermelho é algo digno de ser estudado por psicólogos! É sinônimo de confusão.), resolveu sair de trás de mim e furar a fila! Oh, que beleza! As pessoas que me conhecem sabem que apesar de muito nervoso, eu engulo o nervosismo e nunca estouro, sempre procuro ficar quieto, etc.. Mas o nível de estresse estava muito grande e algo que me deixa verdadeiramente irritado é falta de respeito ao próximo. Quando ela resolveu embicar seu carrão no portão, furando a fila (como já expliquei, as pessoas civilizadas deixam um espaço para passar carros. Mas a malandrona não deixou), veio um outro malandro atrás, que por coincidência ficou parado ao lado do meu carro. Abri a janela, e com minha cara de mané e jeito sensato perguntei: "Boa tarde, amigo, estás indo pro estacionamento?". Ele: "É! To tentando, hehe". Daí, com a mesma cara, eu continuei: "Eu também estou, mas você e sua amiga aí da frente estão dificultando as coisas, pois estão furando a fila.". Ele ficou sem jeito e falou: "Poxa, eu só to seguindo ela...heeheh". Então era hora de agir. Fazer algo que eu sempre achei horrível. Desliguei o veículo, saltei, tranquei e serenamente fui até o Fiat vermelho. Com um sorriso de vendedor de seguros no rosto, pedi para a donzela abaixar o vidro, no que fui prontamente atendido.

- Boa tarde, a senhora está querendo entrar no estacionamento?
- Tô sim. Por quê?
- Ah, porque pode não parecer, mas todo mundo aqui está na fila. Esses carros que estavam à sua frente formam uma fila!
- Eu tava na sua frente a muito tempo - rindo.
- Senhora, qual é o meu carro? (ficou com cara de cu!) A senhora acabou de sair de trás de mim e veio aqui pra frente. A senhora não estava na minha frente.
- Tá bom, tá bom, eu espero você passar!!!
- Sim, eu e todos esses que estão na fila, né? Porque você não passou só a minha frente, e sim de todos esses outros!
- Tá , tá , tá.

Eu, sinceramente, achei que não daria em nada e que a dona do Fiat vermelho fosse entrar na próxima 'leva' pouco ligando pra minha indignação. Mas não é que surtiu efeito? Ela de fato não entrou!!! Só que, como era "ishpertona", ficou justamente no espaço que as pessoas civilizadas deixam para os carros transitarem. Então começou um buzinaço. Quando parei do lado dela, ela começou a gesticular feito uma insana, pensei que estivesse tendo um ataque epilético, mas não, somente estava gritando: "Vai, to te esperando!!! To te esperando". Confesso que então eu errei: "Me esperando e trancando o mundo, porque quis ser 'ishpertona' e fechou a rua". "Problema meu!", respondeu a mulher. Evidentemente que o problema era dela e de todos que estavam presos no trânsito, mas não iria entrar nessa discussão. Fechei o vidro e fiquei serenamente esperando minha vez.

* * *


Finalmente estacionei e fui lá no DAC resolver a questão. O sargento não estava. No seu lugar havia um bilhete: "volto às 16h30". Já eram 17h20. Fiquei lá sentado aguardando e poucos minutos depois ele voltou e pediu mil desculpas. Tudo bem, esse cara tem crédito. É sempre muito eficiente. Depois que eu terminei tudo, ele falou: "Sr. Indignado, me desculpe. Eu esqueci de te avisar que você precisa trazer um certificado de conclusão de curso...". Até tu, Brutus???? Até tu?!?!?! Pelo menos ele falou que eu posso levar o certificado amanhã ou na sexta. Menos mal. Ah, o curioso foi que ele nem sequer olhou minha licença -o motivo de eu ter retornado pra casa.


* * *


Bom, papel da inscrição na mão, tudo certo, vou-me embora. Certo? Quase.

Há algum tempo que a saída do estacionamento do Santos Dumont é lá por trás, perto dos hangares e tal, e...tentem adivinhar onde estava a passeata! Exatamente. Simplesmente que quando eu estava parado na cancela de saída, vem uma manifestante e fala assim: "Por favor, Senhor Indignado, será que a Aparecida da Varig pode entrar com o carro dela por aqui?". Eu pensei "quem?" mas falei: "Bom, contanto que você dê um jeito de convencer todo mundo que tá aí atrás a dar ré, sem problemas.". Ela: "então tá beleza. É isso aí, valeu!" e começou a pedir pras pessoas que estavam atrás de mim para darem marcha ré.

Eu fiquei pensando comigo mesmo: "Quem diabos é Aparecida?". Aí eu escuto a mocinha do estacionamento dando um chilique quando um Fiat Marea começou a entrar...."Olha aqui, não me interessa se é a Cida ou não, aqui não pode entrar! Aqui é a saída! Ninguém vai entrar aqui!" e manteve a cancela abaixada. Do lado de cá da cancela, eu, paradinho. Do lado de lá, Cidão do BBB. Frente a frente comigo. E o melhor de tudo...Cidão, o mito, começou a andar com o carro mas o carro começou a raspar a lateral direita no portão. Eu de frente pra ela, vendo ela xingar muito, mas inexplicavelmente continuar a acelerar...resultado, amassou, arranhou, raspou toda a lateral direita do carro da porta traseira pra trás. Que beleza, Cidão! Eu tive muita vontade de rir, mas fiquei com medo dela partir pra cima de mim munida daquela escova de dentes e querer enfiar na minha boca... eu hein! Tratei de ficar quieto, vê-la acabar de destruir com seu carro BBB e finalmente pude sair do Santos Dumont e voltar pra casa (via Centro, pois eles interditaram ali boa parte daquela 'rotatória').

* * *


Cheguei explodindo de dor de cabeça, febre e exaustão. Chega! Pelo menos resolvi tudo.

Tinha faculdade ainda, mas como era da aula que a professora já falou que não cobra presença e eu já estou passado, fiquei descansando em silêncio total, escuro e no ar-condicionado no máximo. Que beleza! Amanha (logo mais) volto lá pra entregar o tal certificado que ficou faltando. Espero que então eu consiga manter o meu autocontrole e meu compromisso de tentar não me estressar, conservando alguns fios de cabelo. Do jeito que as coisas estão indo, é capaz de eu chegar lá e a torcida do Flamengo estar desembarcando com direito a recepção vascaína.

Mas é isso aí, de volta à vida. Esse fato de hoje vai me permitir voltar a voar, e isto é o mais importante no momento. Aos poucos tudo está ficando nota 10, embora com menos cabelo...

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