segunda-feira, outubro 13, 2003

Alca, Veja, Governo, Covardia, Estupidez.


A revista Veja está nas bancas nesta semana com a seguinte manchete: “Brasil peita os EUA na Alca. Coragem ou estupidez?”.

Trata-se de uma matéria debochada, estúpida, extremamente mal feita e igualmente intencionada. Vamos analisar alguns aspectos:

A matéria é daquele tipo de “regras para o sucesso”, “os 10 pecados capitais”, enfim, analisa uma situação extremamente complexa de forma extremamente simples. É baseada em 7 tópicos, chamados de “Os sete perigos de dar uma banana pra Alca”.

Quem diabos disse que o Brasil deu (ou pretende dar) uma banana pra Alca? Muito pelo contrário, o governo Lula sempre deixou muito claro que é a favor da Alca, mas não nestes termos que aí estão. Portanto, é necessário negociar. Se é para abaixar a cabeça, é melhor nem pronunciar a palavra 'negociação'.

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Agora vamos analisar os tópicos da matéria:

1- Bravatas. Tiram o foco do árduo trabalho técnico de negociação.

Não se trata somente de uma negociação técnica, como a revista tenta mostrar. É, sim, também uma negociação política. Isso não significa que sou a favor de bravatas.

Aliás, não é à toa que esse tópico é logo o primeiro. Talvez seja o único que tenha alguma ‘razão’, daí em diante os outros vão ‘no embalo’ da razão do primeiro.

De fato é preocupante ver o governo brasileiro tentando assumir uma postura internacional que não temos cacife para bancar. Porém, eu e o Eurípedes Alcântara (autor da matéria) não somos os únicos dois iluminados a perceber isso. Ou ele acha que no Instituto Rio Branco só se aprendem regras de etiqueta? Por favor! É muita ingenuidade achar que isso faz parte de um delírio do presidente. Pensar que não faz parte da estratégia de negociação. E se uma coisa nosso presidente tem autoridade para falar é sobre negociação, passou sua vida negociando com os mais fortes. Disso, ele e o Itamaraty entendem.

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Se o Brasil aceitar já a Alca, a Veja vai publicar uma capa nos seguintes termos: “Aceitamos a Alca. Esperteza ou submissão?”? Uma área de livre comércio deve ser, como diz o próprio nome, livre. E do jeito que está a Alca, iremos nos abrir mais ainda e os EUA não, obviamente. Curioso que a própria matéria traz no item 4, a seguinte frase: “Amorim e o americano Zoellick: intransigência dos dois lados levaram a Alca a um impasse”. Portanto, não é o Brasil quem está dando uma “banana”, como se estivéssemos fazendo ‘birra’. Para tentar mudar a postura americana (o que sem dúvida é difícil, e o governo sabe disso) é necessário negociar não somente no campo técnico, mas também no político.

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Os outros tópicos da matéria são tão cretinos que dá até desânimo para comentar. São eles: “Fechar a economia”, “Isolamento”, “estagnação” (por fechar a economia), “protecionismo”.

Percebem que são quase a mesma coisa, mas o senhor Eurípedes precisava escrever mais que uma página, então saiu repetindo a mesma idéia absurda em tópicos diferentes. Não agüento mais essa idéia (que alguns oposicionistas querem vender) que o Lula vai dar uma de Fidel e se fechar pro mundo. Por favor!

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O governo está negociando. Em negociações existem impasses, até porque, se não existissem, não era necessário a negociação. Faz parte do jogo cada um tentar puxar a corda um pouco mais. O que seria inaceitável seria o governo aceitar a Alca nos termos de hoje sem tentar diminuir o protecionismo americano. Curioso que Veja acusa o Brasil de um possível ‘protecionismo’, patético.

Enfim, como já disse anteriormente, tanto o presidente quanto o Itamaraty entendem, e muito, de negociações, muito mais do que o senhor Eurípedes. Até porque, se ele entendesse disso, estaria no Itamaraty, não escrevendo bobagens nessa revista, que é conhecida por utilizar meios de ‘negociação’ que, sinceramente, espero que o governo nunca use.

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