Um estranho no ninho

Ano passado eu cursava jornalismo e tinha a impressão que a turma era uma cambada de rasgadinhas-fashion-maconheiras; mas, sinceramente, nunca tive problemas não, sempre me dei bem com o povo de lá. Resolvi sair do curso porque, lá pelas tantas, me dei conta que estava tendo aula com pessoas que endeusavam diretores de telenovelas. Ora, por favor. Bom, nem era pra falar isso aqui, pois esse assunto já gerou discussões muito sérias com certas pessoas. Portanto, isto posto, saí lá da faculdade de jornalismo e fui fazer informática.

Ciências exatas, não teria rasgadinhas-fashion-maconheiras, é um assunto que eu tenho algum interesse e tem um grande mercado de trabalho. Eu estava certo a respeito das rasgadinhas-daslu, mas confesso estar sentindo saudades delas. Sabe a história do eterno insatisfeito? É por aí.

Mas por que sinto saudades? Bem, a atual turma só tem nerd, no pior sentido que a palavra tem. Quem não é nerd é daqueles que tão lá fazendo não sei o quê (nem eles sabem!), que não conseguem entender absolutamente nada e assim por diante. Devem ser daqueles que escutam o galo cantar "Informática é o futuro..." e foram em busca do futuro, mas são completos idiotas, que só estão lá porque até uma criança de 3 anos passa no teste de admissão da faculdade. Ah, mas aí não tem problema porque eles não passarão do primeiro período e tudo melhora pra frente. Certo? Errado, para que o número de alunos seja grande em todos os períodos, eles nivelam muito por baixo. Se você está interessado em aprender realmente alguma coisa, tem que estudar por conta própria. Mas estudar por conta própria nunca foi o problema pra mim. O que realmente incomoda são os nerds, alienados que só sabem conversar sobre jogos de computador.

Não, meu caro, eu não quero ir pra faculdade como se estivesse indo pra um congresso de filosofia; mas é muito aflitivo você todos os dias não poder falar sobre nada que não seja jogos de computador ou as últimas capas de Playboy -masturbação, disso eles também entendem muito. Quando não estão falando de jogos de computador ou de Matrix (grande assunto ultimamente), estão comentando sobre a mulherada das salas ao lado. Isso é a única diversão que eu tenho lá. É muito engraçado ficar ouvindo eles falarem. Como as pessoas são cara-de-pau! Se você fechar os olhos e só ficar escutando, vai achar que quem está falando é o Don Ruan. Aí você abre os olhos e vê aquela figura com óculos de 30 graus de miopia, pele areia-mijada, aparelho nos dentes, típicos integrantes do 'lambda lambda lambda'.

De vez em nunca, um resolve emitir sua opinião sobre algo que não seja jogo de computador/capa da Playboy/menininhas do direito, aí sai o clássico: "Político é tudo bandido!". Primeira e única frase da 'discussão'. O grau de alienação é realmente assustador. Esses são os "gênios da informática". Estamos bem de gênios...

* * *

Certa vez eu estava comentando com meu amigo BFonte$ que, uma vez que conversar naquela sala é algo quase impossível, eu costumo passar o tempo observando as pessoas. Ali é inevitável ficar especulando sobre a loucura alheia e sempre tem umas figuras que eu penso: "Aquele estudante de medicina que metralhou todo mundo no cinema devia ser uma figura assim. Esse cara tem jeito de que teria um surto desses.".

Pois bem, tem um sujeito que se encaixa nesses pensamentos. Usa óculos serial-killer (aquele modelo que o ovalado aro inferior vai quase na altura da boca) e sai a cada 20 minutos da sala pra ir ao banheiro. Como o sujeito não tem o perfil de cheirador, na minha cabeça era apenas uma figura estranha que tinha incontinência urinária. Mas os colegas nerds, como se ainda estivessem no jardim de infância, tratam de sacanear o cara todos os dias, cada vez que o sujeito sai da sala. É só o sujeito se levantar para sair e começam a gritar (literalmente) coisas grosseiras e ofensivas, sendo que o cara nunca falou com ninguém dos nerds, nem comigo.

Sexta-feira, fui informado que o sujeito falou a uma menina lá da sala que ele tem que sair para tomar remédio (?), que ele tem problemas psiquiátricos (Viu? não era implicância minha!), tem depressão, e que já foi expulso de uma faculdade por quebrar uma cadeira na cabeça do professor e, portanto, não seria nem um pouco difícil pra ele quebrar a cabeça de algum desses idiotas que sacaneiam ele.

Ao saber disso, evidentemente fiquei atônito e comecei a me indignar com tal situação. Oras, não é possível que estudemos ao lado de um psicopata. Um sujeito que faz ameaças desse calibre. Deveríamos ir à coordenação (ou algo do gênero) avisar que há um insano na sala. Não que eu esteja preocupado com algum nerd que ele possa vir a matar, mas que eu possa estar na linha de fogo! Foi então que eu percebi que todos estavam achando engraçadíssima a minha reação. Ora, meus caros, quem ali é mais louco??? O serial killer ou os que acharam o máximo o meu protesto por estudar junto com um psicopata?

Pois, ao me fazer essa pergunta, lembrei do grande McMurphy (Jack Nicholson) participando daquelas sessões de terapia em grupo, indignado com tamanha insanidade que era aquilo. Pois é...