domingo, julho 21, 2002

Antes só do que vendo “Os Solitários”

Nesta noite de sábado, fui assistir à peça “Os Solitários”, que está em cartaz no teatro João Caetano, Rio de Janeiro. Mesmo tendo estrelas como Marco Nanini e Marieta Severo, a peça é muito ruim. Saí no intervalo.

Após ter gastado 60 reais de entrada, nos dirigimos às nossas cadeiras, pois já eram 20h50 e a peça estava programada para começar às 21hs. A peça pra variar atrasou e só começou lá pelas 21h15. Diga-se de passagem, começa muito bem, só com o Marco Nanini no palco e, portanto, muito engraçada. Mas é apenas a introdução, pois logo em seguida começa o desastre. Senti-me assistindo a uma peça de teatro amador. A peça não tem enredo, o texto é pessimamente trabalhado, os diálogos são piegas e ridículos, um melodrama. O texto, em diversos momentos, apela para baixaria, com o uso excessivo e totalmente desnecessário de palavrões, o que só vem a demonstrar a pobreza do texto. E o diretor também apela ao colocar cenas de incesto, dois homosexuais se beijando e outras coisas feitas somente com o intuito de chocar, sem acrescentar absolutamente nada ao pobre texto.

A peça mostra o convívio de uma família onde, apesar de serem uma família, cada um é extremamente solitário e não conta com seu parente, é como se cada um tivesse sua vida solitária mesmo estando rodeados por parentes. Para dar mais dramaticidade à história, um dos filhos, lá pelas tantas vem e fala: “EU TENHO AIDS”...a luz abaixa, toca uma música de comoção. Senti-me diante de uma novela mexicana. Então, a Marieta Severo, que faz o papel de mãe, não dá a mínima para o que o filho acabara de dizer e continua a reclamar de coisas fúteis da vida. Neste instante, me senti diante da TV assistindo a Malhação, devido a uma cena tão infantil. A peça inteira é deveras infantil, parece que foi feita para adolescentes revoltadas por papai ser ausente e mamãe ser uma megera que não está nem aí para a filha.

O tema até poderia gerar uma grande peça, mas não foi o caso. Marco Nanini com sua excepcional interpretação fez com que eu não tivesse um mal súbito pois eu estava prestes a espumar. Quase uma hora depois de tanto sofrimento, veio o intervalo, não tive dúvidas, na mesma hora saímos daquela porcaria e fomos fazer algo que prestasse.

Confesso que deixei o teatro deveras indignado e, ao mesmo tempo, satisfeito por não ter uma família tão doente quanto aquela -com certeza existem várias por aí. Talvez este tenha sido o único ponto positivo daquela porcaria. Mas pagar 60 reais para constatar o que já constatei, há tempos, no convívio com famílias doentes, não vale a pena.

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