Indignado de volta aos estádios

Eu não tenho sorte. Nunca tive e nunca terei. Cresci ouvindo que sou pé-frio. Disseram e eu acreditei, embora esteja sempre tentando provar o contrário. Na verdade, tento provar o contrário não me arriscando em nada que dependa muito da sorte. O mais otimista que eu consigo ser é imaginar que eu não precisarei contar com a sorte.

Domingo, eu fui ao Maracanã; fui torcer pro time que sou fã... Não disse? Não tenho como não me culpar pelo fracasso do escrete glorioso. Glorioso só se for em 1910.

Normalmente as pessoas gostam de exclusividade na vitória e de compartilhar a derrota; eu sou o contrário. Até porque ultimamente não presenciei as vitórias do alvinegro. A maior contribuição que eu posso reivindicar ter dado ao Botafogo durante este campeonato foi a minha ausência dos estádios.

Ontem resolvi fazer duas coisas que eu não fazia há muito tempo: ir ao estádio e andar de ônibus. Obviamente não andava de ônibus há muito menos tempo que não ia aos estádios. O retorno ao mercedão foi tranquilo. Não perdi a ginga necessária para me manter em pé nas curvas em velocidades desafiadoras e nas violentas freadas. Já sobre o estádio, não posso dizer o mesmo... Ainda que eu vá ao Maracanã desde os 3 anos de idade, confesso que não me lembrava 'na pele' como eram alguns detalhes, como a chuva de cuspes de um sujeito indignado que estava sentado atrás de mim. Sim, eram cuspes. Por um momento eu olhei pra trás e vi a fonte bucal ligada. Outro fato que tive que me readaptar foi o preço do cachorro-quente lá fora. Na época que eu ia, custava R$1,50. Eu chorava e conseguia por R$1, sendo só o pão e a salsicha, sem o extra sauce. Agora está dois reais!

Ah, quanto foi o jogo? Oh, preciso dizer? Americano 2 x 1 Botafogo. Que beleza, hein? Apesar do público pagante ter sido de quase 72 mil torcedores, tenho certeza que a culpa foi minha. Mas, como diria Galvão Bueno, tem nada não, amigo! Afinal, sou brasileiro e não desisto nunca.