terça-feira, fevereiro 04, 2003

Crise do setor aéreo

No Jornal da Globo foi exibida uma matéria dizendo que o Governo Federal está com o "cofre fechado" para as companhias aéreas. Belo gesto, soa bonito! Não estão desperdiçando o dinheiro público com "coisas menores", assim sobra mais dinheiro para rasgá-lo perpetuando a miséria. Faltou dizer, na matéria, que as grandes companhias aéreas têm ido ao Governo, há muito tempo, pedir urgentemente que se faça a reforma tributária e se pense uma política para o setor aéreo no Brasil, pois, caso contrário, o setor aéreo entraria em colapso. O que foi feito desde então? Nada.

Embora o atual governo pareça querer dizer que esmola é programa de governo, o setor aéreo não precisa de esmola, precisa de um projeto, uma política definida. Aviação é um setor esquecido pelos nossos governantes há muito tempo. Trata-se de um setor que emprega muita gente diretamente, mas o ponto mais importante são os benefícios indiretos.

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Ao contrário do que muitos imaginam, o que faz o setor aéreo se movimentar não são as grandes empresas. O "óleo" da engrenagem é a aviação geral e as pequenas companhias aéreas. Porém, no Brasil, não existe aviação geral. Por quê? Porque aviação é coisa para trilhardário por aqui. A carga tributária é vergonhosa, ridícula, e os custos são absurdamente altos -muitos deles devido à inadimplência das grandes companhias, o que faz com que as pequenas paguem a conta.

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Mas fazer reforma tributária, fazer projetos, tudo isso é muito complicado e desgastante. Mais fácil é dar cesta básica pra pobre, aparece na televisão em horário nobre. Dá votos.

Aliás, essa política nós já estamos escolados. E posso citar o próprio setor aéreo como exemplo. Nestes últimos anos, ocorreram verdadeiros escândalos com a Infra(z)ero, e praticamente a imprensa nem toca no assunto -talvez por falta de conhecimento na área, melhor acreditar nisso. O maior exemplo é o terminal 2 do Galeão, um aeroporto que estava às moscas e foi expandido. Enquanto isso, o aeroporto de Jacarepaguá, administrado pela mesma Infra(z)ero, tem uma pista de ridículos 900m e sem iluminação. Ora, é sabido que o Santos Dumont estará completamente saturado (mais ainda!) em poucos anos. Para onde vai o tráfego? Para Jacarepaguá. Mas é cedo para ampliar... Estão esperando habitarem mais a área, tornar a ampliação mais difícil, tornar o processo mais caro. Até lá dá para a Odebrecht construir o terminal 3 do Galeão. Quem sabe? Fica a sugestão...

Enquanto vários aeroportos de capitais brasileiras carecem de melhores equipamentos para pousos por instrumento (por exemplo), de melhor pavimentação da pista, a Infraero prefere construir mais "terminais shopping centers".

― Ah, senhor Indignado, pelo menos é legal pra gente ficar olhando umas lojas enquanto os aviões atrasam!

Ora, meu caro, você não prefere chegar em um aeroporto e saber que seu vôo sairá no horário, pois o avião pôde pousar no horário mesmo com mau tempo? Pois é. Caso nossos controladores de vôo trabalhassem em melhores condições; auxílios à navegação fossem melhores; as pistas e pátios fossem maiores e melhores, certamente você não sentiria falta dos 'terminais shopping center' e seria uma passageiro mais satisfeito.

Mas, conforme disse antes, é uma questão de prioridade. O terminal shopping center você está vendo, tudo o que eu disse o passageiro não vê, e, portanto, não dá voto.

É a tal "falta de planejamento" que o nosso digníssimo presidente Lula criticava no então presidente FHC, e eu concordava 100%...

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Essa conversa de fusão é pra boi dormir. Conforme falei anteriormente, o problema é uma falta de política, as grandes companhias não são o grande problema do setor.

Antes das eleições, o então candidato Lula se reuniu com pessoas do setor aéreo e garantiu que assim que fosse eleito iria ajudar o setor. Agora temos que esperar, olhar e cobrar.

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