segunda-feira, setembro 30, 2002

A saga do Ipanema

Essa, sem dúvida, é uma história que marcou minha vida. O hotel Ipanema.

Há uns 3 anos eu fui a Sorocaba para uma feira de aviação que acontece por lá. Nunca tinha ido pra lá e não tinha a menor informação sobre a cidade. A única coisa que eu fiquei sabendo é que um amigo meu fora no ano passado e tinha ficado num tal de "Hotel Ipanema". Ele dizia que era "ruinzinho", mas que era tranquilo pra ficar por lá, por não ser muito longe do aeroporto e também não ser muito caro.

Lá fui eu, juntamente com o sr. Bfonte$. Iriamos rachar o quarto. Chegamos no Hotel e nos deparamos com algo extremamente bizarro. O quarto não tinha janela, era uma basculante que dava para o corredor; a porta do banheiro não fechava; não tinha ar-condicionado. Tá, ar-condicionado poderia ser considerado um luxo, mas somente se tivesse janela, né? Pois é. Aliás, aquilo mal podia ser chamado de quarto. Localizada no meio do corredor, seria o equivalente a uma dispensa.

Deixamos nossas coisas por lá e fomos para a feira. Lá encontramos um cara muito gente boa, que era meu instrutor de vôo, e que ficaria também no Hotel. Nós avisamos a ele que as condições do estabelecimento eram um tanto quanto precárias. Ele não acreditou muito e falou que já ficara em coisa pior (falou antes de ver) em São Paulo... tudo bem, lá fomos nós para o Hotel.

Assim que nós três chegamos na recepção (meu amigo para fazer o check-in), havia um casal de jovens devolvendo a chave e o rapaz falando: "Estamos indo embora, não gostamos do Hotel". Meu amigo olhou pra nossa cara e exclamou em altíssimo som: "Puta que pariu, isso aqui é uma merda!!! Quantas estrelas tem isso aqui? Hmmm, tem 5 estrelas. Uma, duas, três, quatro e cinco -contando os hospedes na recepção naquele momento. Hotel Ipanema, 5 estrelas!".

A menina começou a rir muito, assim como todos nós. Nem o recepcionista aguentou e caiu na gargalhada também...evidentemente constrangido. O único que não riu foi o tiozinho que estava devolvendo as chaves. Mas tudo bem, acabou que esse meu amigo ficou por lá mesmo.

*****


Perguntamos na recepção onde teria algum lugar pra comer alguma coisa por ali mesmo, sem ter que pegar taxi. O cara nos informou que naquela rua mesmo, "um pouco mais pra baixo" tinha. Rodamos a rua inteira, não achamos nada que parecesse um estabelecimento que fornecesse comida.

Resolvemos então pegar um táxi e irmos comer em algum canto. Eram umas 22h e, acreditem, não passava nenhum táxi nas ruas. Eu nunca vi aquilo, não tinha táxi. O jeito era voltar para o hotel. Descobrimos depois que só conseguiríamos táxi pelo telefone.

Voltamos ao Ipanema e lá pedimos o telefone de algum lugar que entregasse comida ali. Ou pizzaria, qualquer coisa, um Bob's da vida, sei lá. Sei que estávamos azuis de fome. O cara nos deu um telefone, era de um lugar que entregava sanduíches, ou pelo menos pretendia ser isso. Sei que os sanduíches chegaram embrulhados em papel laminado e fediam muito, muito mesmo. Era tenebroso. Mas para quem estava azul de fome, foi alguma coisa para prencher o vazio perturbador dos nossos estômagos.

*****


Logo na primeira noite, estava um calor insuportável. A única escapatória seria ou dormir de porta aberta ou recorrer ao maravilhoso circulador de ar que tinha no quarto. Liguei o circulador de ar no mais fraco e fui tentar dormir. Não adiantou nada, continuava suando muito. Foi quando resolvi botar o bichinho para operar em máxima potência. Apertei o botão e me deitei...foi quando a turbina começou a ganhar velocidade, o ronco do motor começou a aumentar e, quando menos esperávamos, o aparato ameaçava levantar vôo. Tremia tanto que parecia que iria desmontar e começou a andar muito. Era muito espetáculo para pouco vento, diga-se de passagem. Foi quando chegamos a conclusão que: reduziríamos a potência daquela maquina giratória ou algum acidente grave ocorreria. O jeito seria nos acostumarmos ao calor e dormir daquele jeito mesmo.

Lá foi Bfonte$ inaugurar o vaso sanitário...impestou o quarto, afinal, a porta não fechava por completo! Nossa, agora além do calor, teria que me acostumar aquele odor um tanto quanto desesperador. Ah, acho que dá pra dormir assim...vamos ver. Foi quando barulhos estranhíssimos adentraram o aposento, pelo basculante. Barulhos que se pareciam com um homem das cavernas grunhindo, sei lá. Sei que era algo assustador, que estremecia todo o quarto. Foi quando descobrimos que era um "vizinho de cela" que roncava mais alto do que uma tuba. Aí era demais! Comecei a surtar muito, muito mesmo. Não era possível dormir daquele jeito.

O telefone toca:

- Alô? -atendi
- Ou faz silêncio ou você vai ser expulso do Hotel.

Nossa, quanta receptividade! Eu fazer silêncio, EU! O trombone que estava no quarto ao lado poderia continuar tocando aquela sinfonia maravilhosa, mas EU tinha que fazer silêncio. Ok, ok, ok...era a primeira noite ali...acabou que fiquei quieto; não consegui dormir, obviamente; mas não fui expulso daquele espetáculo de hotel 5 estrelas.

*****


Ficamos os dias da feira por lá e fomos embora na segunda-feira pela manhã, num vôo da Pantanal que saia cedíssimo de lá em direção a São Paulo. Acho que saia as 6:30, algo assim. Sei que para estarmos no aeroporto às 6h, teríamos que sair umas 5h30 do hotel. Pode parecer mentira, mas também não tinha táxi que fosse lá pro Ipanema a essa hora, nem pedindo por telefone. E aí??? Como faríamos. Só descobrimos esse detalhe àquela hora da manhã. Aí que o Ipanema mostrou toda sua versatilidade: o recepcionista, único (ir)responsável pelo hotel acordado naquele momento, vira-se e fala: "Que é isso pessoal? Vamos embora, levo vocês lá!". O cara abandonou seu posto de trabalho, tirou o que fora um carrão, na década de 20, da garagem e nos levou até o aeroporto. Não cobrou nada, mas demos uma grana pro cara.

*****


Sei que o Hotel é tão ruim, que no ano seguinte eu voltei -sozinho! haha
Dessa vez, eu pensei: "nada de miséria! Vou ficar no quarto de luxo!". O quarto de luxo, acreditem....tinha janela pra rua e ar-condicionado.
Muita atenção: isso não significa que era bom o quarto! Muito pelo contrário. Mas esse episódio eu conto em outra oportunidade...

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