terça-feira, setembro 17, 2002

O dia em que o doce voltou...

O que vou contar-lhes, ocorreu há uns 3 anos atrás, no verão. Eu havia emprestado uns CDs de um simulador de vôo para um conhecido. O cidadão nunca copiava o maldito CD, e um belo dia eu precisei deles. Como eu ia pegar uma cópia de um outro jogo para mim, ficou decidido que eu iria até a casa dele, e em “10 minutinhos” tudo estaria resolvido.

O cara morava aqui perto, numa vila em Botafogo, e estudava engenharia mecânica na UFRJ. Depois foi ser engenheiro aeronáutico no ITA e hoje em dia trabalha na Embraer. Nem precisa dizer que o cidadão era meio louco né? Se você ainda não está convencido disso, digo que ele ficava escutando os sons do modem para “monitorar” a qualidade da conexão. Escutando? Sim, ele fez uma gambiarra para jogar a saída de áudio do modem para um som da década de 30 (antes de cristo), e nesse aparato, ele ficava escutando os ruídos do modem. Apesar de “meio” louco, o cara era gente boa e muito educado. Importante deixar claro que ele não era um amigo, era apenas um conhecido e tal... eu não tinha a menor intimidade com o cidadão.

Chegando na casa dele, ele me diz que iria demorar só mais um pouquinho pois tinha se esquecido de desfragmentar o HD. Tudo bem, nessa época, as gravadoras de CD realmente não funcionavam muito bem, e era muito fácil perder alguns CDs. Mas o rapaz fazia um scandisk completo (inclusive com teste de superfície) e desfragmentava o HD antes de queimar qualquer CD. Para piorar, as velocidades de gravação eram baixíssimas. Portanto, para cada CD, se gastaria cerca de uma hora. Percebi que os 10 minutinhos seriam um tanto quanto prolongados...e não tinha ar-condicionado na casa, e estava só uns 40ºC

Lá pelas tantas aparece a avó do cara, uma senhora portuguesa muito educada e atenciosa. Talvez um pouco demais. Trouxe uns docinhos que ela mesmo tinha feito (só não disse quando) que eram à base de biscoito de maisena e chantilly. Eu, muito cerimonioso, aceitei.
Assim que botei um pedaço na boca, senti um gosto meio azedo (além do normal do chantilly) e percebi que: o que deveria ser gelado, estava na temperatura ambiente -morno. Chantilly que não tenha acabado de sair da geladeira, nesse calor, é uma péssima idéia. Mas tudo bem, eu, de forma diplomática, comi o doce inteiro -tendo como trilha sonora da refeição os ruídos do modem. Mas confesso que não fui educado a ponto de atender aos inúmeros pedidos de “bis”, não aceitei o tão oferecido “outro pedacinho”.

Aproximadamente uma hora depois, comecei a sentir uma forte revolução intestinal. Na mesma hora eu pensei: “maldito doce”...mas nessa altura do campeonato, já estavam acabando as gravações dos CDs e eu já estava prestes a ir embora. Pensei: “ah, tudo bem, tá brabo, mas dá pra agüentar chegar em casa” -já estava no último CD. Foi quando eu comecei a suar mais ainda -frio- e me sentir meio tonto. “Mas tudo bem, já estou indo para casa”.

As gravações acabaram e já estávamos indo embora. Ele ia comigo até a saída da vila para trancar o portão, e eu iria pegar um ônibus para casa. Ele foi avisar à avó que eu estava indo, e eu fiquei na sala esperando. Foi quando eu percebi que a coisa estava muito pior do que eu pensava. Comecei a ver tudo apagar, o som sumir e pensei: “Xi, vou apagar...” na mesma hora me sentei num sofá que tinha lá e fiquei na minha...ai veio a avó dele, eu me despedi, me levantei e saímos. Quando dei uns 5 passos fora da casa do cara, de novo veio a sensação de desmaio e falei:

— Aí cara, pera aí. Não tô legal
— Que foi? -ele perguntou.
— Não sei cara, não tô legal...to passando mal -já me sentando no chão. Para eu chegar ao ponto de falar que estou passando mal, é porque eu estou muito mal.

Assim que me sentei no chão, aconteceu uma das coisas que eu mais odeio: veio aquele jato quente, ácido e impossível de segurar -levando com ele: o doce podre, toda a minha cerimônia e diplomacia. Nisso, ele, parado, indagou:

— Ih, será que foi o doce da minha avó?

Antes que eu pudesse rir, chorar, xingar ou ter qualquer outra reação, veio a segunda leva. Verdade que, logo depois desta segunda leva, me senti muito bem. E tudo tem seu lado bom, eu não iria mais de ônibus pra casa. O maldito achou por bem me trazer de carro. Tive um febrão de uns 39ºC e fiquei uns dois dias me recuperando...

Ontem, pensei que iria passar por uma situação semelhante, mas não foi tão grave. Tudo se resolveu -de forma “pacifica”- comigo ainda em casa, embora eu também tenha tido febre à noite. Sempre que eu como alguma coisa que me cai mal, eu tenho febre. É verdade que não devo cantar vitória, pois ainda estou “conversando” com o polvo. Mas acho que já está tudo sob controle. Espero...

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