sábado, agosto 17, 2002

João Kleber & Figueiredo atacam mais uma vez

Jessica


Misture uma produção de quinta categoria com um apresentador picareta, adicione uma pitada de um merchandising picareta (empréstimos sem necessidade de qualquer tipo de garantia) e para completar, escolha uma rede de televisão que se adeque a este perfil canalha. Pronto, esta é a receita para o programa Canal Aberto, apresentado pelo João Kleber, todas as tardes, na Rede TV –a emissora que mais cresce no Brasil.

Nesta última quinta-feira, o apresentador levou ao palco uma moça, 23 anos, que não conhecia o pai e estava a procura dele. Este era o assunto do programa para a quinta-feira. Por isso que eu digo que a produção é incompetente, pois em um programa de 2h eles pegam um assunto que se resolveria em 10 minutos. Mas enfim, como preencher 2h de programa com este assunto? Em um programa “normal” isto seria matéria para 10 minutos caso enchessem muita lingüiça. Mas o João Kleber vê mais longe, sabe como fazer render de forma elegante e digna um assunto destes. Ele, simplesmente, pegou a moça e saiu rodando pela emissora, dizendo que iria apresenta-la ao pai e que, com certeza, seria um dos momentos mais emocionantes da história da televisão brasileira. O digníssimo apresentador botava a pobre coitada para abraçar todos os homens que eles encontravam e fazia ela perguntar o nome do cara para saber se era o pai dela. Por várias vezes a moça se emocionou, achando que estava diante do pai. Tudo isso, com a música “Pai” do Fábio Jr. tocando no fundo e com uma legenda “EXCLUSIVO” estampada na tela –como já é de praxe nos programas deste apresentador. Depois de aproximadamente uma hora meia rodando com a moça pela emissora e tendo abraçado uns 20 homens pensando que era o pai, vários merchandisings tendo sido apresentados, eles voltaram ao palco e, só então, ela encontrou o seu pai. Enfim, um verdadeiro show de entretenimento, ética e respeito aos convidados dele e, principalmente, ao telespectador. Exatamente o que o João Kleber prega.

Ontem, sexta-feira, o show tinha que continuar, e a matéria do dia (eu ainda não consegui me acostumar com o fato de assuntos que se resolveriam em 10 minutos, serem tema de um programa de 2h de duração) era sobre um travesti que iria botar “os peitos da Mari Alexandre” (eu achava que era Mary, enfim...), tudo, obviamente, por conta do programa. Quem seria o repórter que iria fazer a matéria? Quem? Quem? Não poderia ser outro, o já famoso Repórter Figueiredo. Jesus... Este é outro bandido, é uma ofensa à classe jornalística este senhor estar trabalhando como repórter. O cara consegue, em algumas vezes, superar a canalhice do João Kleber. Diversas foram as vezes em que ele fez matérias que ele dizia que iria entrevistar alguém, e este alguém (sempre assim, sem nomes) iria revelar uma coisa bombástica, algo que abalaria “tudo o que está aí” –as palavras usadas são sempre estas. Então, o repórter Figueiredo fica as duas horas do programa na rua, se estiver chovendo é melhor ainda, e fica aguardando a pessoa comparecer ao local previamente marcado por ele –sempre são matérias externas, pois, segundo o repórter, as pessoas temem pela própria segurança caso tenham que ir à emissora. Nesse tempo, ele diz que acha que viu a pessoa e sai correndo para procurá-la, volta e diz que recebeu ameaça de morte, nisso o João Kleber começa a berrar e fica emocionado, preocupado com a integridade física de seu maravilhoso repórter, etc.

Voltando ao programa de sexta-feira: Como a matéria estava pouco interessante, pois tudo já estava revelado (fato este que é inadmissível neste programa), o repórter Figueiredo resolveu dar uma apimentada no caso. Lá pelas tantas, ele falou: “João Kleber, a Jéssica (se referindo ao travesti) é namorada de uma pessoa MUITO famosa, mas MUITO famosa MESMO. O namorado da Jéssica está todos os dias nas manchetes, João Kleber. É seríssimo isso. Caso ela revele quem é seu namorado, muita gente vai ficar chocada.

Pronto, o circo do João Kleber estava formado. Era o que estava faltando para o espetáculo começar. Além de ficarem debochando do travesti, com brincadeirinhas referentes ao tamanho da genitália do rapaz, ficaram duas horas nesse “Fala, não fala”, em relação ao tal namorado “da Jéssica”.

O maravilhoso repórter Figueiredo mostrou a “moça” trocando de roupa, botando o aventalzinho do hospital; botou “ela” para falar direto com a mãe, que estava deveras agradecida ao João Kleber, por estar realizando o sonho de uma pessoa; entrevistou a enfermeira e ficou fazendo perguntas extremamente cretinas; mas nunca, em momento algum, se esqueceu de lembrar que a Jéssica era namorada de alguém MUITO famoso. E sempre que ele fava isso, cortavam para o João Kleber, que estava sempre rindo, aumentavam o som da música e o suspense todo era feito. Sempre seguido de um merchandising, como de costume. Enfim, como sempre, a “moça” não revelou quem era o tal namorado e foi para a sala de cirurgia fazer o implante.

Esse programa é insuportável. Vou descobrir quem é o diretor dessa porcaria e entupir sua caixa postal de e-mail. É um absurdo alguém passar isso às 18h. Pode parecer implicância minha, mas, realmente, o João Kleber é, disparado, a figura mais sem caráter da televisão. Digo o mesmo a respeito da sua produção e, principalmente, do repórter Figueiredo, safados!

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