terça-feira, agosto 27, 2002

Acusado de matar Tim Lopes é preso e humilhado

Ratinho


Ontem foi preso o traficante Renato de Souza Paula, 31 anos, o Ratinho, acusado de ter matado o jornalista Tim Lopes. Por mais que ele seja traficante, seja acusado de ter cometido um crime bárbaro que tenha chocado a sociedade, ele -nem nenhum ser humano- não pode ser submetido à humilhação pública que ele foi submetido ao ser ‘apresentado à imprensa’. Vale lembrar que não se pode ‘apresentar à imprensa’ uma pessoa detida, assim como fizeram com o traficante Ratinho. Na pratica é o que acontece, mas na teoria, o cara está lá sendo fichado e a imprensa fotografou o cidadão.

Deveria ficar claro na cobertura da imprensa, que ele é um acusado e deve ser tratado como tal. Quem deve condenar alguém é a justiça. Não é a polícia, muito menos a imprensa. É realmente difícil se manter imparcial em uma cobertura destas, mas é dever do jornalista não condenar ninguém e tentar se manter o mais imparcial possível.

O mínimo que poderíamos esperar de uma polícia séria, é que o policial que levanta o rosto do acusado, para que a imprensa tire as fotos, tenha que prestar alguns esclarecimentos ao seu superior. Mas como a sociedade ainda está abalada pelos fatos e, principalmente, clama por uma polícia corrupta (conforme eu já disse há algum tempo), quem for contra a atitude que este policial tomou será taxado de “defensor de bandido” e coisas do gênero. A questão não é defender bandido, é defender o que é correto. A lei vale tanto para mim quanto para ele.

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Ontem, o traficante negou a participação no assassinato de Tim Lopes, mas, agora, está circulando a notícia que “o traficante em depoimento informal a agentes do Serviço Reservado do 20 º BPM (Mesquita), ontem à noite, confessou que executou o jornalista Tim Lopes com um tiro de misericórdia depois das torturas.”. Alto lá, depoimento informal, à noite, a agentes do serviço reservado? A gente sabe o que isso significa. Não estou querendo dizer que este cidadão não é o assassino do jornalista, mas essas confissões nestes "depoimentos informais à noite" não têm crédito algum.

Mas vamos preferir tapar o sol com a peneira ao vermos o cidadão cheio de hematomas. É natural que o cidadão normal clame por vingança, é um sentimento natural ao ver o seu semelhante violentado. Mas a polícia não é -não deveria ser- composta por cidadãos normais, são pessoas especializadas no trato com marginais e treinadas para cumprirem a lei. Isto pode parecer óbvio, mas não é o que a sociedade cobra da polícia.

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